domingo, 15 de agosto de 2010

A velha história do patinho feio

Outro dia estávamos nós três - eu, minha consciência e meu violão - discutindo sobre quem tinha maior capacidade de raciocínio. Eu, como sempre, comecei me defendendo, argumentando que sem mim, nenhum deles funcionava. Usei então a questão dos conjuntos, em menção à minha paixão platônica, minha abstração preferida, minha sempre bela mathematĭca (Ah). Bom, como dizia, nos pus como conjuntos e expliquei que, como tais, eles seriam apenas partes do todo (eu), e sendo assim, qualquer característica deles - inclusive a racionalidade - seria minha também, porém muito mais desenvolvida. Minha consciência, não concordando com a teoria, me fez pensar que dela derivava toda minha atividade mental e, portanto, meu raciocínio. Apresentou ainda a idéia de que, quando se trata de cálculos, por exemplo, eu sou um grande "colador" (imagina). Ela nos induziu a acreditar que é ela quem chega às respostas e que eu apenas verbalizo o que a pobre teve o trabalho de desvendar (como eu poderia?). Isaac, o violão, apenas observava, mantendo-se - não sei por que motivo - em profundo silêncio. Então voltei a falar, defendendo agora as atribuições às quais apenas eu, dentre os três, tinha acesso. Disse que, a partir da minha capacidade racional, eu era o único entre nós que podia falar, me mover e decidir sobre o destino do meu corpo. Podia, assim, relatar toda nossa discussão em texto se quisesse. A dita cuja, não se dando por vencida, concordou em um primeiro momento, mas logo usou a minha tese como um critério contra mim. Me fez lembrar que eu realmente podia dirigir meu corpo, entretanto ele não funcionava durante todo o tempo. A esperta me fez lembrar que eu dormia, e nessas horas meu corpo não era mais produto de qualquer raciocínio. Minha consciência, por outro lado, continuava desperta, criando realidades paralelas enquanto eu permanecia em estado de recarga. Sem argumentos que corrompessem tal fato, propus então um desafio. Enquanto isso, via-se o instrumento imóvel, em constante observação - quieto. O desafio consistia em uma prova de raciocínio rápido e importância. Em explicação, aquele que conseguisse, por qualquer meio, desenvolver mais rápido uma forma de mostrar ao outro que sua importância e conservação eram de grande valor para os demais, provaria sua maior capacidade mental e um ligeiro valor de destaque perante os adversários. Após a confirmação de todos - inclusive de Isaac, pois quem cala consente -, a disputa teve início. Foram-se alguns quartos de minuto e o desenlace parecia distante. Eu podia sentir a consciência palpitar, como se lá dentro houvesse um homenzinho nervoso tentando desenvolver fórmulas em folhas de papel para tal impasse. Foi então que decidi manifestar-me: não havia solução. A consciência parecia concordar, e estando nós prontos para considerar igualdade de raciocínio, eis que, sutilmente, meu violão começou a deslizar a cabeça na parede, em uma redução angular em direção ao chão. A queda parecia cruel. De impulso e dessa vez sem precisar de muita lógica, minha consciência ordenou e, meu corpo, sem titubear, deslocou-se em velocidade incomum para impedir o tombo do instrumento. Por pouco, consegui salvá-lo. Então, após o alívio, minha consciência e eu, juntos, paramos para refletir. Eis que ela achou graça e eu, em acompanhamento, movi alguns músculos em um sorriso peralta. Tínhamos acabado de perceber que o violão, após todo aquele tempo em silêncio e observação, mostrara ali sua importância perante os ditos "pensantes". Seu valor era tão importante que qualquer raciocínio fora dispensado naquele instante. Com apenas um movimento Isaac nos convenceu de sua superioridade metal e, mais do que isso, de sua alta valia para nós. Ficou evidente que a aparente habilidade lógica não é a principal característica de um ser - ou de sua consciência -, mas sim o que o faz querido pelos outros. Bom, talvez eu ainda consiga vencer minha consciência em um desafio maior, quem sabe?! Talvez em um jogo de xadrez, ou em uma atividade mais... física. ;)

Obs.: desta vez, sem Isaac.

3 comentários:

  1. Aiin eu cheguei a rir e me emocionar com o texto! Você é doido! Tudo entra a matemática! rsrs Eu achei muito legal... por isso ainda quero conhecer o Isaac. kk Ele é o mais experto! kkk
    Parabéns... ;P

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  2. HUAHUA' se emocionar? ahh, nem é pra tanto ;P
    hehe' siim, minha paixão ;9 nhá, ele tbm quer te conhecer, e conhecer o teu novo violão velho.. HUA'
    Obriigaduul ;)

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  3. nossa , ném!!!
    que texto maraaaaa!!!
    é muito bom vc ter um blog, assim chego mais pertinho de vc !!!

    bem achei linda a conclusão do texto: o valor das coisas não se pode ser medido, algo às vezes caro, ou com uma capacidade que achamos ser maior pode ser e na maioria das vezes é menos importate do que as coisas mais simples.
    O QUE TEM VALOR É AQUILO QUE NOS FAZ FELIZ!!!
    sendo assim seu texto te muito valor para mim!!!
    bjussss

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