segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Sobre a morte e o moço

Era o teu desejo que lutava em pulsar no sempre sóbrio coração daquele moço. Sóbrio por fé e talento dele, apenas. Afinal, no depender de ti, embriagado agora estaria. Teu álcool o teria envolvido, no depender de ti.  E teu, então, ele seria, no desejar de ti. Em teu mórbido coração, se assim pode-se dizê-lo, contorcia-se uma vontade sombria de possuir-lhe. Resistia-te, ele - com força impressionante, a irritar-te profundamente. Jogavas rosas banhadas em éter, em veneno banhadas, banhadas de morte. Ainda assim, resistia-te aquele moço - resistia-te ainda mais aquele moço. Ao invés das rosas, preferia os galhos secos, não tocados por tuas garras, não notados por ti. Mas aquele moço, ele notava. Notava tudo o que de mais simples o rodeava, tudo o que tu jamais pensaras tomar uso em teus maus planos. Notava e usava disto em favor próprio. E ensinava a outros como favorecer-se da pequenez. Teu desejo em dominar-lhe aumentava sensivelmente, assustadoramente. Tua ira e a inquietação tua deformavam-te. Seguias tornando-te, desde o início, a mais bizarra das criaturas. Tentavas por-lhe medo com tua feiura, mas a coragem dele terminava por amedrontar a ti. Era ele um moço especial, não havia dúvidas. Por fim, decidiste, tomado de uma cólera fervorosa e um desejo mortal, a vida tirar-lhe. Qualquer de suas armadilhas até ali havia falhado. Restava a ti apenas este imundo e asqueroso método. Ó, quão desprezível foras. Aproveitar de um plano alheio e bondoso de vida plena para saciar os teus impulsos de morte. Levado deste mundo, então, ele foi. Homem indigno de tal fim. Esplêndido em toda sua vida. De simplicidade e caridade jamais vistos. Era justo por natureza, herdeiro de um poder sem dimensões. Pela morte deixou-se tomar. Alegrava-te assistir às últimas cenas daquele moço antes de partir. Alegrou-te ainda mais a sensação vã de tê-lo derrotado. Tua casa em festa estava. Todos os convidados da tua maldita ceia dançavam em torno daquele desfecho fúnebre. Por tempo curto, no entanto. Em contados três dias, os muros de tua podre caverna tremeram, partiram-se, desabaram. A morte que preparaste perdia o gosto e a forma. Ouviam-se gritos e gemidos ao passo que aquele moço, aquele mesmo moço, nobre e bondoso, atravessava as portas do cativeiro em que fora alocado, levando consigo aqueles privados da vida que agora sorriam, entre cantos de esperança, ao segui-lo. Ao exato terceiro dia, a força e herança de um homem prevaleceu por completo sobre um reino de asco e podridão, mostrando a todos aos quais um dia ensinara que o início (e seus reinícios) é superior ao fim. Ele, o moço de coração sóbrio e grandiosamente humilde, foi vitorioso em sua épica batalha contra a morte. De espírito puro e nome Jesus, aquele moço tornou-se o exemplo vivo de que é possível acreditar, de que é possível enfrentar o mal e vencê-lo, se houver confiança em seu poder, no poder do seu espírito e no de seu Pai, do qual herdara sua virtude. É o seu desejo que luta até hoje em pulsar em nossos corações embriagados. E, despido da menor sombra de dúvida, no depender dele, todos os homens da Terra a morte venceriam.

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